Percorrer o corredor é uma aventura para lá de
desafiante. Tem até o seu quê suicida. Vai daí, decidi transformar essa
experiência diária no meu momento de glória: não há alunos, nem corredor. Há
admiradores que gritam e que se atropelam para me ver passar. Há nos seus
rostos, bem sei, um desejo que quase roça a invejazinha, de quererem ser como
eu. No chão, os que desmaiam de emoção. Contorno-os, cumprimento, e sigo em
frente, com aquela expressão seráfica que só as grandes estrelas sabem ter.
Percorro o imenso corredor, enquanto, estarrecida, ouço o clamor de quem, no
seu anonimato, anseia pelo meu brilho.
Incontáveis “Olá Pressora”, depois é o
esticar de braços para um cumprimento , são os toques no ombro, a insistir numa
proximidade tão ansiada, quanto impossível.”Professora?” - tenho-me perguntado,
depois percebi, este tem sido o meu papel nos anos mais recentes.
- Ah, a confusão do público, que não distingue quem
sou da personagem que represento!
Depois desta experiência, o momento da aula é de
ansiedade, que apenas termina com o toque de saída, para poder novamente desfilar
na passadeira vermelha da minha loucura. Que é grande.
Durante a aula da manhã, ainda com o cérebro em “stand-by”,
a determinada altura, ouvi um comentário: “Adoro estas aulas”. Discretamente, olhei
para o colega L., que tão bem me coadjuva, pensando vir dele tal expressão de
apreço, mas não, ele estava ao fundo da sala, de joelho no chão a ajudar um
petiz, foi quando me apercebi que tinha sido a T.. Percebi, naquele momento,
que os milagres existem.
De volta à sala de professores, reparei num vulto
indistinto (não tinha os óculos e havia em mim a desconfiança de que os tinha
perdido), esse vulto, dizia eu, estava numa pose de “vou pôr-me aqui atrás
deste poste para ninguém me ver”, esconderijo pouco feliz, pois até eu, que não
vejo um palmo, me consegui aperceber da sua presença. À medida que me
aproximava, descobri que era a P.G.(vénia),
em busca dos infractores. Ficou atrapalhadíssima quando me viu. Não que mo
dissesse, ou que se percebesse, mas acho que essa é a reacção certa quando se
está na presença de uma estrela de cinema. Espreitava a T., disse-me, que já se
tinha metido em sarilhos, sim, a T., que no outro dia escolheu ir à Direcção,
em vez de ficar na aula de Português, que tanto adora.
Esta situação fez-me lembrar outra: no ano lectivo
passado, tive um jovem aluno que me disse: “Oh pressora, eu sei onde ‘tão as
camaras todas! Todas, pressora! A
única coisa que não sei é de onde é que o Prof. F.N. e a Prof. P.G. me podem aparecer."
Fica a sugestão: esqueçamos as câmaras de
vigilância, que estes professores e a D.ª F., com os seus 6 olhinhos, são muito
mais eficazes!
À saída, a D.ª F., mal me viu no patamar das
escadas, começou com uns salamaleques estranhos, de rabo p’ró ar, como quem faz
uma vénia desengonçada e vá de se desculpar, por não ter posto um gosto na
crónica de ontem, gesto que muito
apreciei. Agora só já falta a D.ª C. seguir-lhe os passos, tal como a D. a S.G..
Espero não me estar a esquecer de ninguém, que eu cá não gosto de andar a melindrar as pessoas.
Espero não me estar a esquecer de ninguém, que eu cá não gosto de andar a melindrar as pessoas.
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