O pressor P. e os paradoxos


A aula poderia ter sido muito diferente: já me estou a ver, toda empertigada, a perguntar aos petizes se sabiam o que era aquele palavrão, eles, inicialmente pouco interessados, eu a empertigar-me mais, eles a ficarem curiosos, eu, que já teria empertigado tudo o que havia para empertigar, colocaria uma certa expressão de erudição, eles, pasmados com a sapiência que sabiam que iria sair mal abrisse a boca, eu a percebê-los "no ponto", aí  atiraria qualquer coisa como trata-se de uma impossibilidade blá blá bá... e remato com blá blá blá, pois isso teria sido a minha aula. Mas não foi. 
O que aconteceu foi isto:
- Então e que palavra é que foi aqui empregue totalmente fora de contexto e que nos mostra que a personagem não dominava a língua portuguesa?
- Paradoxo, pressora! - respondeu logo o D., que é rapaz muito despachado.
Resposta após a qual entrei eu:
- E, sabeis, jovens, o que é um paradoxo? - já a começar a empertigar-me.
- Oh, é uma realidade impossível - disseram dois ou três, com um ar de franca naturalidade, que se  me recolheu logo o empertigamento.
Quis, de imediato, saber quem ousara ensinar-lhes uma tal coisa:
- Mas quem é que vos anda a ensinar isso?
- O pressor de Físico-Química! - novamente em coro.
- O professor de Físico-Química, quem é que é o professor? - perguntei, já a antecipar a resposta.
- O pressor P. - responderam.
- Pois - disse eu.
 E assim acabou aquilo que não chegou a ser, mas que, se fosse, teria sido coisa digna de registo nos anais do ensino do Português.

Nunca me enganou esse pressor P. , com o seu ar de Gedeão do séc. XXI. É claro que isto foi um pensamento que não partilhei com os moços, não fossem eles pensar que estava a chamar nomes feios ao professor.

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