De Directora para Directora


A vida é um mistério insondável, uma travessia íngreme, árdua, injusta. E saibam que se o afirmo, é porque sei do que falo: tenho este ano uma direcção de turma. Mas também tem o reverso, esse alento que nos arranca da modorra e nos impele ao desafio, e que faz crescer em nós uma vaidade saudável, afinal, sou directora de alguma coisa.
Tento, assim, como directora, levar a bom porto os barcos tormentosos que se desnorteiam no mar encapelado que é a vida escolar. Cresce em mim uma missão de faroleira e vá de orientar os barqueiros para as amenas costas do bom comportamento. É árdua a tarefa, extenuante, mas, paulatinamente, vou recebendo pequenas pérolas como a que passo a descrever.
Acompanhei, com a colega C.R., a turma ao Centro de Ciência Viva. No entanto, estive com os alunos apenas durante o percurso, tendo-lhes pedido, antes de os deixar, que se portassem bem, que, pelo menos, fora da escola, não me fizessem sentir envergonhada. É claro que este pedido é apenas fruto da minha extrema timidez, não que se trate de uma turma agitada, mal comportada, faladora, desrespeitosa, pouco trabalhadora e imatura, que não tem particular apetência para acatar pedidos ou cumprir regras.
Depois de muitas recomendações, a M.V. lá respondeu, com um sorriso descarado “Sim, mãe!”, como quem diz, deixa-te disso, que o que havemos de fazer, sabemos nós.
Pois bem, ontem, à saída da aula com outra turma, estava a minha.
-Pressora, pressora , portámo-nos bem!  - disseram em coro, daí a dicção estar afectada.
- Pois, já me disseram, fiquei contente! – comentei, séria.
E diz logo o D.S., com o seu jeito de homem feito em corpo de 13 anos:
- Oh, tã que jête nã pertarmos, melhér!

Soltei uma gargalhada interior e pensei que isto de ser directora é bom, embora não me importasse que quem de direito aceitasse a minha demissão. 

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