Mal entrei, a M.E., que dias antes, também no
início da aula, se pusera, muito séria, à minha frente, querendo saber se
estaria com febre, situação que cientificamente para mim não tem segredos e que
avaliei com uma mão na testa da pequena e uma frase toda ela revestida de conhecimento
“ Nã tens fébre nada, vais masé sentar-te!” , frase esta, que lhe deu uma
segurança tal, que a pequena, se estava adoentada, lhe passou a enfermidade de
imediato. Ora dizia, mal entrei, a M.E., com o seu ar mais dócil e ingénuo,
veio ter comigo para me colocar esta pergunta:
- Professora (sim, a dicção já melhorou), tem
aquela coisa que faz furos em folhas de papel? – o ar era sério e dócil e nas
mãos tinhas umas quantas folhas…
Olhei-a com um certo pasmo, enquanto continha a
risada que não podia soltar, e respondi, pedagogicamente, claro está, que o
objecto que demandava dava pelo nome de furador e que, embora normalmente fosse
utilizado para furar folhas de papel, seguramente também furaria a folha de uma
oliveira, e quem dizia oliveira, dizia castanheiro, enfim, fazia furos.
Pareceu-me esclarecida, tendo soltado um
- Oh, pressora! – note-se que, dado o nervosismo, a
dicção se lhe alterou.
Ora mal sabia eu que o melhor estava para chegar.
À tarde, mal pousei o Mancha Mobile, vem logo o L.
B., muito despachado e com um largo sorriso:
- Oh pressora, já falou com o pressor de Ciências?
- O professor P.C.? Sim, falei de manhã, porquê? –
perguntei, curiosa e achar que aquilo trazia água no bico.
E o L.B., desbocado, toca de me elucidar:
- O pressor tava a passar um powerpoint e
perguntou-nos se não tínhamos nada para dizer…
- Sim… - respondi a tentar perceber onde aquilo ia
dar.
Quem continuou foi a C. R., que originou uma grande
contrariedade ao L.B..
- Sim, pressora e a gente perguntou ao pressor se
ele queria que a gente dissesse que o powerpoint estava bonito, mas a gente
disse que só os da pressora é que estão bonitos!
E não se pense que a C.R. disse isto por dizer,
pois a grande maioria da turma abanava afirmativamente com a cabeça. É certo
que se lhe notava uma espécie de ironiazinha, que eu ignorei por não me
interessar.
- Muito bem, jovens alunos. Estiveram muito bem! –
disse eu, francamente agradada, por ver tamanha espontaneidade e reconhecimento
em todo o investimento que coloco nas minhas apresentações. Aliás, que lhes
caia o céu em cima das cabeças, se alguma vez os treinei para tal resposta!
- Ah, e pressora – a voz é novamente do L.B. – o pressor
P.C. disse para dizermos à pressora que os powerpoints deles são mais bonitos.
Irritei-me.
Irritei-me, naturalmente que sim. E tomei uma
medida drástica. Eu, que não sou de “leva e traz”, disse logo aos moços:
- Então digam lá ao professor de Ciências que a
professora de Português o desafia para um concurso de powerpoints. Mas uma
coisa séria, com júri e tudo.
É então que a C.R. profere:
- Os da pressora são melhores. Os do pressor é só bactérias!
Duvido que, perante este facto, o professor de
Ciências se atreva a aceitar o desafio que lhe propus.
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