Contributo para o estudo da loucura
Isto às vezes dá uma certa vontade de cortar os
pulsos, mas como seria um grande desassossego, opto por me rir, que sempre é
mais higiénico e até dou um ar de pessoa (ainda mais) simpática.
Ora ontem, a propósito de um exemplo que dei sobre
o adjectivo, qualquer coisa como “O R. é simpático.”, a T., não sei se
enciumada, aventou-me logo à cara com um “Isso é uma metáfora de ironia, nã é?”
Nã, T., nã é, respondi, mas com um apertozinho, porque era notório que havia
colocado todo o seu entusiasmo naquela resposta.
Depois deste doloroso dever que me cumpre que é,
também, o de corrigir estes jovens companheiros de jornada, já noutra aula,
pedi à M. (sim, a dos eufemismos como “coisas fofinhas”) que lesse, coisa que
faz muito bem e de que gosta. Infelizmente o timing não foi o melhor ,
dizendo-me logo com um despacho que a minha parca capacidade de escrita não me
permite aqui reproduzir:
- ‘Pere lá pressora, tenho de apanhar o cabelo,
isto parece um ninho de ratos. A minha mãe diz sempre isso.”
Eu o que fiz? Esperei, naturalmente, que eu cá,
quando me vêm com comparações derreto-me toda.
Já hoje, estou toda vaidosa. É que, enquanto me
dirigia para o fundo da sala, fazendo uma escorreita explicação sobre a flexão
verbal, a evidência da minha elegância não deixou o M. indiferente, que,
timidamente, comentou com o colega “A pressora ‘tá cada vez mais magra”. Ah, o
que eu gosto destes mimos. É claro que ele não estava a ser irónico, até porque
a balança não engana e de há uns meses para cá já aniquilei para cima de 200g!
Continuei a aula, confesso que com uma certa confiança,
afinal também tenho direito a uma vaidadezinha de vez em quando e, enquanto
trabalhavam, lembrei-me de que nunca tinha perguntado ao V. há quanto tempo
estava em Portugal e então disse:
- Oh, V., há quanto tempo estás em Portugal?
Ele lá me respondeu e disse que quando chegou à
escola ficou numa turma de 29 alunos, rematando, com um sorriso bem mais
vaidoso do que aquele que eu ostentava desde que o M. notou que eu tinha menos 200g
e com o sotaque açucarado do Português brasileiro:
- Já viu, professora, 28 rapazes e a única rapariga
da turma vai logo gostar de mim?
Eu cá sorri e ordenei logo que voltassem ao trabalho.
Sentei-me, no meu escritório imaginário, cuja entrada é feita por uma
imaginária porta de vidro com sensor, e onde se dirigem os alunos que necessitam
da minha ajuda, nunca esquecendo que, por vezes o sensor não é tão rápido
quanto eles, pelo que devem aguardar uns instantes até poderem passar.
O A. precisava de um esclarecimento, aproximou-se, eu disse-lhe que
tivesse cuidado com a porta, ele teve, esclareci-o e o A. ficou parado e não
voltava ao seu lugar.
- A., o que fazes aqui? Volta para a tua mesa!
- Tou à espera que a porta abra, pressora.
Mas de onde tiram eles estas ideias???
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